PÁGINAS

domingo, 31 de julho de 2011

LINGUA PORTUGUESA: UM BREVE PERCURSO HISTÓRICO

Tomar-se o texto como unidade de análise no campo dos estudos da linguagem pode parecer pouco questionável ou mais ainda constituir-se uma verdadeira necessidade, porem, o primeiro a empregar o termo Lingüística de texto foi, Harald Weinrich, autor alemão que postula toda lingüística ser necessariamente Lingüística de texto.

Um amplo esforço teórico com perspectivas e métodos diferenciado do campo da Lingüística Estrutural. A Lingüística de Texto vai muito além dos limites da frase, e retira da linguagem a simples função de códigos puramente informativos.

Na constituição do campo da Lingüística de Texto não houve um desenvolvimento homogêneo, tendo formas independentes em diversos paises, dentro e fora da Europa continental, em momentos distintos.

Não há consenso de ter existido uma cronologia de um momento para outro, houve uma aplicação gradual do objeto de análise da Lingüística de Texto e um afastamento da Lingüística Estrutural.

  1. Com a construção de gramáticas textuais o texto passa a ser estudado dentro de seu contexto de produção sendo compreendido não como um produto acabado, mas como um processo, resultado de operações comunicativas e processos lingüísticos em situações  sócio-comunicativas.
Na análise transfrástica parte-se da frase para o texto, com objetivo de construir uma unidade de sentido ao texto, pois nem tudo conseguia ser explicado pelas teorias sintáticas ou teorias semânticas.

Nas primeiras propostas de elaboração de gramáticas textuais nas palavras de Marcuchi (1998ª),  tentou construir o texto como objeto da lingüística. Dizendo de outra forma as primeiras gramáticas textuais representaram um projeto de reconstrução do texto como sistema uniforme, estável e abstrato.

Entre frases e textos há uma diferença que pode ser classificada como qualitativa e quantitativa, já que a significação de um texto segundo Lang (1972), constitui um todo que é diferente das somas das partes. Além disso, consideram que o texto é a unidade lingüística mais elevada, a partir da qual seria possível chegar, por meio de segmentação, a unidades menores a serem classificadas.

A segmentação e a classificação de um texto em unidades menores deveria, no entanto, sempre considerar a função textual dos elementos individuais, ou seja, que tipo de papel cada elemento desempenha em dada configuração textual e que todo falante nativo possui um conhecimento acerca do que seja um texto, já que ele conhece as regras subjacentes e sabe quando um conjunto de enunciados constitui um texto ou quando apenas constitui um conjunto aleatório de palavras ou sentenças.

A capacidade formativa permite produzir e compreender um número elevado e ilimitado de textos inéditos, possibilitando uma avaliação sobre o texto.

A capacidade transformativa permite que o leitor seja capaz de parafrasear e resumir um texto, e avaliar com convergência, a adequação do produto.

A capacidade qualificativa, que lhe confere a possibilidade de tipificar com convergência um texto dado, dizendo se ele é uma narração, descrição, argumentação ou outros, e pode produzir um texto de tipo particular.

Segundo Fávero & Kloch (1993), se todos os usuários possuem competência textual, podia-se então justificar uma elaboração de uma gramática textual com objetivos como:

Verificar se um texto realmente possui características de texto, buscando nele coerência e textualidade.

Levantamento de critérios para a delimitação de textos, já que a completude é uma das características essenciais do texto.

DIFERENCIAÇÃO DE VARIAS ESPÉCIE DE TEXTOS.

A elaboração de gramáticas textuais foi bastante influenciada, em sua gênese, pela perspectiva gerativista. Seria semelhante a gramática de frases, um sistema finito de regras a todos os usuários da língua, que lhes permitiria dizer, se uma seqüência lingüística é ou não um texto bem formado.

Muitas questões não conseguiram ser contemplada, e não conseguiram garantir um tratamento homogêneo dos fenômenos pesquisados, e logo partiram para a elaboração de uma teoria de textos, que ao contrario das gramáticas textuais, propõem-se a investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos.

Adquirindo particular importância o tratamento dos textos no seu contexto pragmático, e a investigação se estende do texto ao contexto, avaliando as condições de recepção e interpretação dos textos.

As mudanças ocorridas em relação as concepções de língua é um sistema efetivo em contextos comunicativos, o texto não é mais visto como produto, mas como um processo, assim de uma forma real passaram a compreender a Lingüística de Texto como uma disciplina essencialmente interdisciplinar, abrangendo todos os interesses que a movem.

CONCEITO DE TEXTO

O termo texto abrange tanto textos orais, como textos escritos que tenham como extensão mínima dois signos lingüísticos, um dos quais, porem, pode ser suprido pela situação, no caso de textos de uma só palavra, como “socorro!” sendo sua extensão máxima indeterminada.

Percebe-se nesta definição uma ênfase no aspecto material ou formal do texto: sua extensão, seus constituintes, e o texto esta sendo considerado uma unidade que apesar de teoricamente pode ser de tamanho indeterminado, é, em geral delimitada, com um inicio e um final mais ou menos explicito.

Considerar as condições de produção e de recepção dos textos significa passar a encarar o texto não mais como uma estrutura não acabada (produto), mas sim como parte de atividades mais globais de comunicação.

A produção textual é uma atividade verbal, isto é os falantes, ao produzirem um texto, estão praticando ações, atos de fala sempre que se interage por meio da língua, ocorre a produção de enunciados dotados de certas forças, que irão produzir no interlocutor determinados efeitos, ainda que não seja aqueles que ele tinha em mira.

A produção textual é uma atividade verbal consciente, isto é, trata-se de uma atividade intencional, por meio da qual o falante dará a entender seus propósitos, sempre levando em conta

A produção textual é uma atividade interacional, os interlocutores estão obrigatoriamente envolvidos.

Toda palavra comporta de duas faces. Ela procede de alguém para alguém e constitui o produto entre ouvinte e interlocutor. A palavra é território comum do locutor e do interlocutor.

Em suma a Lingüística Textual trata o texto como um ato de comunicação, unificado num complexo universo de ações humanas.

A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS NO TEXTO.

Aqui, trataremos de esclarecer alguns pontos sobre coerência e coesão textual, a primeira pode ser definida como: modo como os elementos subjacentes superfície textual vêm a construir, na mente dos interlocutores. E a coesão, é o fenômeno que diz respeito ao modo como elementos lingüísticos presentes no texto encontram-se interligados.

Exatamente por reconhecer a complexidade do processo de produção e compreensão dos textos nas diferentes situações comunicativas.

A COERÊNCIA TEXTUAL.

Para afirmar a coerência de um texto deve verificar sua textualidade ou seja,uma seqüência lingüística adequada, a qual proporcionara um sentido ao texto. E a partir dessas premissas ocorre um debate se existe correlação textual.
Quando avaliamos um texto temos a função de compreender e encontrar sua textualidade, sua coerência textual, ou seja um real sentido.

A partir de outras experiências foi comprovado que nem todo leitor sabe distinguir um texto de um não-texto. Como cita a revista Veja de, 6 de janeiro de 1999, quando faz uma relação entre sentido e interpretação de canções da MPB.

A COESÃO TEXTUAL

E fruto de muito entendimento de texto, porém notada com excelência por poucos, ministradores de textos. A progressão de um texto pode ser percebida pela forma como o tema é, ao mesmo tempo mantido e renovado. Este procedimento de manutenção temática diz respeito à articulação entre a informação dada e a nova. A coesão se tem firmação nos conectivos empregados durante a construção do texto.

CONCLUSÃO

 Resumidamente o texto apresenta o que a área de Lingüística Textual, no Brasil conseguiu desenvolver teoricamente para propiciar analise sistemática de produções textuais contextualizadas, pretendeu oferecer uma breve revisão dos conceitos e categorias que foram elaborados ao longo da historia da construção deste campo.

Como base geral, o discurso sobre texto e formação textual não para, sendo ela uma constante, pois a cada texto temos uma situação a ser analisada. E nisso surgem duvidas que são esclarecidas pelos porquês.

(Lucimar Simon)

domingo, 24 de julho de 2011

CASA GRANDE E SENZALA – GILBERTO FREYRE, 1933

No prefácio da obra, Darcy Ribeiro considera que Gilberto Freyre em CG&S nos ensinou a nos reconciliarmos com nossa ancestralidade lusitana e negra, de que todos nós nos vexávamos um pouco. Trata-se, segundo ele, de uma “interpretação arejada e bela da vida colonial brasileira”, que “ajudou o Brasil a tomar consciência das suas qualidades, principalmente das bizarras”; e ajudou os brasileiros a “aceitarem-se tal qual são”.

No inventário amiúde que faz Gilberto Freire da vida colonial brasileira, do sistema patriarcal e escravocrata, o autor dedica atenção às cantigas, citando inclusive trechos de algumas, mostrando a importância delas como instrumento multiuso, como para direcionar o comportamento das pessoas. Ao mesmo tempo em que as cantigas serviam para ninar a criança, alegrar o ambiente, animar as festas, cultos religiosas e as diversas atividades do trabalho, funcionavam também como reforço ideológico para afirmação de poder, para catequizar, converter e cultuar a fé católica.

A cantoria era utilizada ainda para invocar a intervenção dos santos para os casamentos e como apelo de cunho erótico para estimular o romance, a sexualidade ou a fertilidade. As cantigas também eram usadas para disciplinar, através do medo, criança má educada, ou para manutenção do bom comportamento aos padrões de criação das crianças da época. Nesse caso, as cantigas abordavam temas fantásticos, de mal assombro. Uma outra utilidade da cantiga era para reforçar as brincadeiras violentas e sádicas dos meninos.

Foi o negro que animou a vida doméstica do brasileiro da sua mais pura alegria. (O português era melancólico, sorumbático, tristonho enquanto que o caboclo quase um doente na sua tristeza. A risada do negro é que quebrou essa apagada e vil tristeza, alegrando os São Joões de engenho, animou os bumba-meu-boi, cavalos marinhos, canaviais, festas de Reis e o Carnaval.

Nos engenhos, tanto nas plantações como dentro de casa, nos tanques de bater roupa, nas cozinhas, lavando roupa, enxugando prato, fazendo doce, pilando café, nas cidades, carregando sacas de açúcar, pianos, sofás de jacarandá de ioiôs brancos – os negros trabalhavam sempre cantando seus cantos de trabalho, os de xangô, os de festa, os de ninar menino pequeno – encheram de alegria africana a vida brasileira.

Gilberto Freyre deixou para fechar o seu livro com essa reflexão: “Mas não foi toda de alegria a vida dos negros escravos de ioiôs e das iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando-se, envenenando-se com ervas e postagens dos mandingueiros. O banzo deu cabo de muitos. O banzo – saudade da África. Houve os que de tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram: ficaram penando. E, sem achar gosto na vida normal, entregando-se aos excessos, abusando da aguardente, da maconha, masturbando-se”.

Este texto foi uma cortesia de Bartolomeu, meu colega da pôs graduação em História e Literatura. Bartolomeu obrigado pela contribuição.

(Lucimar Simon)

domingo, 17 de julho de 2011

OS RATOS - DYONÉLIO MACHADO

Os ratos, de Dyonélio Machado: os trabalhadores assalariados como minoria social. O romance Os ratos traz a figura singular de Naziazeno. Envolvido em dívidas, ele vai à cata de empréstimo para saldar o compromisso com o leiteiro. Ambos, o leiteiro e o protagonista, são representantes de uma classe economicamente desfavorecida, e ainda assim vive um conflito interno, sem mostras de solidariedade. A pobreza, que alcança a maioria da população brasileira, constitui, no entanto, um traço de “minoria e marginalidade”, pois, sem recursos, toda esta população se vê excluída da rede de consumo (e de educação, entretenimento etc.), colocando em risco até mesmo o leite para o sustento da família. Com linguagem avessa a sentimentalismo e impregnada de nuances psicológica, “Os ratos” trata expondo o drama de Naziazeno, da solidão e do egoísmo dos homens. A narrativa, assim, denuncia a desigualdade social no contexto urbano, evidenciando a miséria dos trabalhadores num Brasil que faz vistas largas à necessidade de uma reforma social. Realça desse modo, no drama familiar de Naziazeno, a necessidade de garantia do direito do operário aos itens básicos que compõem a dignidade de um cidadão: trabalho, moradia, alimentação, saúde etc.

(Lucimar Simon)

domingo, 10 de julho de 2011

O NAVIO NEGREIRO – CASTO ALVES

“O navio negreiro”, de Castro Alves: os negros escravos como minoria étnica.  Em “O navio negreiro”, aparece a denúncia da situação de extrema precariedade dos negros africanos, seqüestrados, transportados e vendidos como escravos. Tal situação, dantesca, fere todos os princípios da dignidade humana. A revolta do sujeito lírico, mesmo com as marcas retóricas e algo demagógicas de um condoreirismo tardio, atinge inclusive a figura divina, contestada em sua omissão diante da situação absurda: “Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, Senhor Deus, / Se eu deliro... Ou se é verdade / Tanto horror perante os céus?!...”. A condição animalesca do transporte marítimo da “carga” de escravos é uma parcela apenas da situação do negro no Brasil e no mundo há apenas algumas décadas atrás. No poema, portanto, Castro Alves denuncia a crueldade e a injustiça do regime escravocrata, em vigor no Brasil imperial, defendendo a libertação dos escravos e a garantia de seus direitos humanos, ignorados pelas classes sociais que os mantinham.

(Lucimar Simon)

domingo, 3 de julho de 2011

ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA - CECÍLIA MEIRELES

Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles: os inconfidentes como minoria política. O longo poema Romanceiro da Inconfidência apresenta um rol bastante grande de personagens do povo (escravos, tropeiros, soldados, garimpeiros, carcereiros), em geral em situação de subalternidade em relação aos personagens da elite de Vila Rica (ricos, nobres, governantes, portugueses, proprietários, intelectuais). Avulta, no Romanceiro, a figura do alferes Tiradentes. Ele pertence ao grupo que, rebelando-se contra a cobrança excessiva de impostos por parte de Portugal, planeja, de forma ainda difusa, opor-se ao governo autoritário de então. Descoberta a “inconfidência”, os líderes são presos e punidos: no entanto, aqueles de situação social elevada têm uma pena a ser cumprida em vida; só Tiradentes, de baixa patente, próximo às camadas populares, é que recebe a pena fatal, sendo esquartejado e tendo partes do corpo exibidas, como forma exemplar de inibição e repressão a possíveis novos levantes: “Pois agora é quase um morto, / partido em quatro pedaços, / e – para que Deus o aviste – / levantado em postes altos”. O poema expõe a perseguição aos brasileiros rebeldes à colonização portuguesa, e ávidos pela independência política. Ao tratar dos primeiros insubmissos na colônia, Meireles reflete também sobre a importância da liberdade de orientação e de expressão política.

(Lucimar Simon)